sábado, 31 de janeiro de 2009

MITO DE ADÃO E EVA

Segundo a bíblia o mundo é bom. A finalidade da criação é a paz de Deus figurada no repouso do sétimo dia. O homem foi criado da terra, mas animado por um sopro de vida. Destina-se ele a viver na amizade com Deus, que lhe concedeu o dom da liberdade. Ora, a harmonia primitiva da criatura foi destruída. O homem, seduzido pelo poder da mentira, expõe-se a desobedecer a Deus na vá esperança de se tornar igual a ele. Toma então consciência de si mesmo no sofrimento e na vergonha. Dessa forma o pecado entrou no mundo.
Gênese 1 :26-28. Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrasta sobre a terra. Deus criou o homem a sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou:” Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos. Enchei a terra e submetei-a “.
Gênese 2:7. O Senhor Deus formou, pois, o homem de barro da terra, e inspirou-lhes nas narinas um sopro de vida e o homem se transformou em um ser vivente.
Gênese 2:15. O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. Deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as arvores do jardim; mas não comas do fruto da arvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que deles comeres, morrerás indubitavelmente”.
Gênese 2:21-22. Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher.
Gênese 3:1-6. A serpente disse à mulher: “É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda arvore do jardim?” A mulher respondeu-lhe: “Podemos comer do fruto das arvores do jardim. Mas do fruto da arvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais”. Oh, não! - tornou a serpente – vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que deles comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal. A mulher, vendo que o fruto da arvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. Então seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si.
E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde.
Mesmo se não existem documentos que permitam estabelecer quando o livro Gênese foi escrito, em base às analises que a ciência realizou, tem-se como certo que parte das tradições nele citadas retroagem à reforma religiosa introduzida pelo rei Josias em 621 a.C., e o livro, em si mesmo, teria sido compilado depois dos 50 anos de exílio babilônico, quando Ciro, Rei da Media, apos ter conquistado a Babilônia, autorizou os hebreus que o desejassem, no ano de 538 a.C, a retornar a sua terra natal. Nesta época, os hebreus haviam se despido da sua identidade cultural e religiosa: não cultuavam mais o Deus de Abraão e não falavam o hebraico porque os que retornaram a Israel, por serem os filhos dos que haviam sido deportados, haviam assumido o grego como língua oficial. Foi neste momento que os sacerdotes – os únicos que haviam se mantido fieis a suas crenças – começaram a “se empenhar” para que o povo judeu reassumisse a sua identidade religiosa
É factível estimar, conseqüentemente, que não só o livro gênese, mas os demais que integram o velho testamento, devam ter sido compilados no arco de 100 anos, ou seja, entre 520 a 420 anos a.C., portanto,sofrendo a influencia da doutrina de Zaratrusta.
O cristianismo, entretanto, antes de utilizar os velhos livros religiosos hebraicos, perpetrou algumas alterações, porque para os judeus, por exemplo, embora se dêem conta da existência do pecado, o pecado original jamais existiu.
Para eles, o “instinto do mal” resultaria da matéria que foi utilizada por Deus para criar o homem: o pó da terra. Contudo, crêem que a expiação para o mal que é causado por este instinto pode ser obtida através de sacrifícios, penitências, boas obras e a atuação da graça Divina. Não por meio de uma intervenção direta e pessoal de Deus, claro, mas pela atuação de um “instinto bom” que também é natural no homem por ter sido criado à imagem e por um sopro de Deus.
Porque os livros judaicos foram influenciados pelo zoroastrismo? Só para lembrar, já nos anos 650 a.C., os testos iranianos, battrianos, médios e até os persianos, dividiam seus deuses em duas categorias: os Ahura - as divindades superiores da luz que moravam no cosmo, e os Daeya - os espíritos inferiores que moravam na terra.
No Avesta, o livro sagrado dos antigos Persas escrito por Zaratustra – lê-se que no fim da sua peregrinação, à margem do rio Daeya, lhe aparece um anjo, e nesse encontro se da um dos mais fecundos acontecimentos para a história das religiões.
Zaratustra teve a visão de uma Luta cósmica entre as forças do bem e do mal - entre Deus e satanás - e depois disso teve a certeza que a vida continuava depois da morte no paraíso ou no inferno. Foi o primeiro a anunciar isso. Os demais profetas das religiões ocidentais anunciaram estes princípios muito tempo depois. Isso provavelmente aconteceu, segundo os historiadores, entre os anos 610 a 590 a.C., portanto, aproximadamente 600 anos antes de Jesus Cristo e 1.200 anos antes de Maomé, mas milhares de anos depois de Moises.
Do lado de Ahura Mazdah em primeiro lugar existe Spenta Mainyu, “Espírito Santo” que tanto pode aparecer como encarnação do Deus único, ou como entidade espiritual com o objetivo de anunciar a vontade Divina, e seus servidores são divindades da luz “amesha spentas”, espíritos imortais ou anjos que recebem a missão de anunciar aos homens as mensagens Divinas. Vohu Manu - boa alma - que apareceu a Zaratustra na margem do rio para acompanhá-lo ao trono de Deus, era um destes anjos. Do lado do “espírito do mal”, Angra Mainyu, estão os daevas, demônios, e a este grupo pertencem a maior parte dos “deuses” que eram adorados pelos antecessores de Zaratustra e por aqueles que não lhe seguiram os exemplos. São espíritos a serviço do mal.
O que existe em comum, então, entre o judaísmo, o catolicismo e o proprio islamismo, que também aceita o livro Gênese? Que foi Deus que criou tudo, incluindo o homem, porque pessoalmente o moldou a sua imagem e semelhança no barro da terra e com um sopro lhe deu vida.
A partir desta conceituação, mesmo se alógica, é aceitável que Deus, como Pai, tenha imposto obrigações a seus filhos, porem, se até no mundo terreno, hoje, o pai que impede que seus filhos se instruam freqüentando a escola está sujeito a penalidades legais, quem é aquele “deus” que exigia que seus filhos se mantivessem na ignorância: “não comas do fruto da arvore da ciência do bem e do mal, porque no dia em que deles comer, morrerás indubitavelmente”, e vivessem cegos, porque depois que comeram os frutos proibidos seus olhos se abriram, e, vendo que estavam nus, se vestiram. O que esse pai esperava: “eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde”, mantê-los cegos e ignorantes em seu jardim pela eternidade?
Mas a insensatez desse “deus” não termina aqui:
Gênese 3:16. Disse também à mulher: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás a luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio”.
Gênese 3:17. E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da arvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa”.
Se esse “deus” castigava e amaldiçoava, como depois enviaria seu Filho, Jesus, para através do seu sofrimento pagar os pecados do mundo? Como mínimo há muita incoerência nisso tudo.
Quem seria este “deus” que, depois de produzir um homem tão defeituoso e mau, mesmo tendo-o feito com suas próprias mãos a sua imagem e semelhança, no passado - segundo o livro Gênese - arrependendo-se de tê-lo criado o destruiu com o dilúvio, e hoje lhe reserva o inferno - sob o comando de satanás - para retê-lo e castigá-lo pela eternidade, se até o homem, quando produz algo defeituoso, em outras palavras, com defeito de fabricação, imediatamente o desmancha? Com certeza um deus imaginado por homens - portanto intrinsecamente com suas próprias imperfeições - para servir-se dele em seus fins religiosos.

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