sábado, 31 de janeiro de 2009

PARADIGMA DO PRIMEIRO PECADO

Paradigma, tanto pode ser uma teoria, uma idéia ou uma estória - algo que a grande maioria aceita - sobre a qual seus mentores continuam construindo no sentido de torná-la cada vez mais real. E na medida em que essa expectativa se realiza, como é nesse caso, se transforma em uma história, mesmo se a documentação utilizada para lhe dar sustentação é ilusória.
Estamos falando de Adão, o homem que, segundo o conto do livro Gênesis, por ter sido o precursor da humanidade, e ter pecado, inseriu a maldade na natureza de todos os homens. Sim, por representar um entendimento, quando um paradigma é acolhido, passa a ser a única verdade aceita e reconhecida no meio em que ele é adotado.

No entanto, como as pesquisas continuam ratificando cada vez mais enfaticamente, a única possibilidade de ter existido um Adão predecessor da humanidade, é este Adão ter sido um Australopithecus, porque é com o chimpanzé que a humanidade compartilha mais de 98% do seu patrimônio genético.
No que tange ao pecado - ou maldade moral - como todos sabemos, ele existiu, permanece e persistira, mesmo se em proporção decrescente, independentemente do empenho da sociedade em combatê-lo, isso porque, pela lei de causas e efeito, nada acontece se não tiver que acontecer. Mesmo a morte, considerada o crime maior, se for despida dos cenários pintados pelas religiões que nasceram da bíblia, nada mais é do que uma passagem de uma estação para a outra, assim como sempre depois da primavera chega o verão.
Recentemente, em um canal de TV operado pela ala carismática do catolicismo, um frei, ótimo orador, recebeu a seguinte pergunta de um telespectador: “O que a igreja pensa do mal que é praticado no mundo?” Que mal perguntou o frei? O cósmico, que bombardeia o planeta com meteoritos? O da Terra, com seus terremotos, furacões e tsunami assassinas? O dos animais selvagens ou o do homem que se manifesta por meio da violência que pratica? O mal faz parte do contesto do mundo porque é Universal, finalizou o religioso. Assim fazendo, fugiu de um dialogo que como veremos é muito difícil de sustentar.

Para nos, não existe uma razão compreensível que indique de onde vem o mal moral, disse E. Kant, em sua tese “a religião nos limites da razão”.
O mal é uma evidencia, mas a sua razão permanece obscura. Além das razões particulares das atitudes moralmente reprováveis, a raiz do mal que se espraia tanto no nível individual como no coletivo, continua envolvida na sombra do mistério, um mistério que aparentemente carrega consigo, além do motivo do mal, o fato de não ser deleitável. Este caráter misterioso, segundo Kant, só existe devido à incapacidade de encontrar uma resposta racional adequada ao porque do mal moral.
A nossa modesta contribuição, diz ele, não entende, e muito menos pretende, resolver uma problemática que provavelmente não alcança nenhuma resposta definitiva, mas deseja examinar a tentativa de solução formulada na segunda metade do século XIII por um pensador que marcou a historia da filosofia ocidental. Trata-se de Tomas de Aquino, que como muitos outros contemporâneos, enfrentou o problema espinhoso do mal e elaborou uma resposta que, evidentemente, só podia se desenvolver e ser aceita no regaço da cultura do seu tempo.
A tentativa dessas paginas é reconstruir e esclarecer um aspecto particular da ética tomasina: aquela da relação entre o mal moral – pecados, vícios etc. - cometido a nível individual, e o mal Universal, que aparentemente está na sua raiz e carrega consigo o segredo do seu caráter de inexorabilidade. Na ótica medieval, e tomasina em particular, não existe uma explicação racionalmente valida que não apele a um conceito universal: No nosso caso, então, não é possível esplicar a razão do mal moral que se situa no plano individual, sem recorrer a uma razão que possua um caráter normativo, e por redundância, a um caráter universal.
Entende-se que Tomas de Aquino discutiu esta problemática nos termos em que ela podia e era discutida no XIII século, por isso que, o que hoje podemos chamar mal universal, era indicado como “pecado original”, enquanto o mal que é praticado pelos indivíduos era indicado como “pecado (ou vicio) atual”.
Procuraremos esclarecer a articulação destas duas realidades no pensamento de Aquino, baseando-nos, essencialmente, nas analises presentes na “Summa theologiae (I, qu. 95; Ia-IIae, qu. 71-85; IIa-IIae, qu. 163, que integraremos com outros testos significativos (Commento al II libro delle Sentenze, d. XXX, qu. 1; Summa contra Gentiles, IV, 50-52; De malo, qu. 4).
Recordaremos, inicialmente, os elementos salientes na visão tomasina de Adão inocente, e examinaremos em que consistiu o pecado, esclarecendo a relação entre o pecado individual e o pecado original, e formularemos algumas observações conclusivas no mérito da possível superação do mal.

1 – Condição de inocência de Adão.
Qual foi a condição de Adão no momento da sua criação? Clarear este aspecto é essencial para entender a natureza do seu pecado, sendo este uma transgressão ou derivação em relação ao seu estado de “inocência”.
Na questão do numero 95 da Summa Teológica, Tomas de Aquino diz que Adão foi criado justo, em outras palavras, reto e honesto, de conformidade com o versículo do Eclesiastes 7:30: “Deus fecit hominem rectus”.
Esta justiça original, própria do status de natureza, consistia na submissão da razão a Deus, no sentido da razão do corpo e da alma. Esta relação de submissão, que entende também a hierarquia das faculdades que lhe são implícitas, obedecia à finalidade ultima para a qual o homem era destinado: a contemplação a Deus.
Esta finalidade não podia ser realizada a não ser através das faculdades superiores do homem, ou seja, do seu componente intelectual, assim, para obedecer a este fim ultimo, tornava-se necessário o domínio da razão sobre as demais faculdades da alma e, de forma mais acentuada, o domínio sobre o corpo.
No estado natural, o primeiro homem era justo no sentido que tudo, nele, estava orientado na direção da razão pela qual havia sido criado. A justiça original era assim fundada sobre uma estrutura interior de Adão. Em outras palavras, a justiça original residia na articulação harmoniosa dos componentes do primeiro homem em função do fim sobrenatural ao qual estava destinado. Ora, segundo Tomas, a retitude do estado de natureza, enquanto orientada na direção de um bem sobrenatural, não podia ser outra coisa: um dom divino, o que corresponde a um dom gratuito. A justiça inicial na qual Adão foi criado, era ao mesmo tempo um bem natural e um dom da graça divina, conferida ao homem para sustentá-lo durante a sua caminhada em direção à visão de Deus.
Graças ao ordenamento harmonioso das faculdades próprias da justiça original, o primeiro homem era privado das paixões negativas, como o medo e a dor, mas também das positivas como o prazer e o desejo. O perfeito equilíbrio das faculdades inferiores, fazia com que Adão fosse somente estimulado pelas paixões como o prazer, o amor e a esperança em relação ao bem, paixões estas plenamente harmonizadas com o padrão racional.
É necessário sublinhar, no entanto, que para Tomas de Aquino as paixões, em si mesmas, não representavam um mal, porque estas acompanham todos os seres humanos enquanto compostos de corpo e alma, portanto naturais, ma se tornam um impedimento à consecução do fim ultimo se não são submetidas à guia da razão.
Como em outros muitos aspectos, aqui também Aquino aplica o principio da ordem, segundo o provérbio ”bonum universi est bonum ordinis” que transforma cada realidade em uma coisa boa na medida em que ocupa o lugar que lhe cabe na hierarquia do real. Neste caso especifico, a aplicação deste principio permite que as paixões não sejam exclusas, mas que sejam integradas situando-as no seu devido lugar na hierarquia das atribuições da alma humana. Podemos assim imaginar Adão inocente, como um ser dotado de paixões como o desejo, o amor e a esperança do bem.
Estas paixões eram de fato plenamente compatíveis com a virtude que ele possuía, sendo estas ultimas perfeições porque, graças a elas, a razão é submetida a Deus, e as faculdades inferiores submetidas à razão. A perfeição do estado de natureza implicava, deste modo, na posse de todas as virtudes, seja no estado atual (entendendo virtude a caridade, a justiça, a fé e a esperança), seja como habito (entendendo virtude a penitencia e a misericórdia).
Nesse momento, resumindo os dados até aqui recolhidos, podemos dizer que no estado de natureza de Adão, este possuía a justiça original - paixões nobres como o amor e a esperança - alem de todas as demais virtudes.
A perfeição desse estado de coisas consistia na articulação harmoniosa de todos os componentes do ser humano, endereçados pela razão à finalidade ultima, uma vez que esse era o seu objetivo desde o momento da sua criação por ter sido feito à imagem de Deus. Nesse momento, o primeiro homem só se distanciava da condição Angélica pelo seu componente corpóreo, que mesmo assim era submisso a instancia espiritual. O mal e a dor lhe eram estranhos, e o seu ser almejava exclusivamente o bem.
2 – o pecado de Adão.
Como se sabe, segundo o mito bíblico transmitido pelo livro Gênese, a condição de perfeição e de harmonia do estado de natureza, foi manchada pelo pecado de Adão, porque cedeu à tentação e ao desejo de um bem. Qual foi a natureza desse pecado, desse primeiro mal que teria sido o responsável pela concupiscência da inteira humanidade?
Os pensadores medievais deram inúmeras respostas a essa interrogação. A mais difundida foi aquela de matriz agostiniana, que considerava a concupiscência como o elemento constitutivo e formal do pecado original. Daí, entendendo-o como tendência ao mal inserido nas faculdades sensitiva, adotou a concupiscência para esplicar o pecado de Adão ao longo do XII século, graças, entre outras coisas, à sustentação que lhe foi dada por Pietro Lombardo, o arquiteto italiano que construiu em Veneza a igreja de Sta. Maria dos Milagres.
Esta teoria, contudo, foi acompanhada por outras interpretações e soluções: a escola de São Vito, por exemplo, introduziu a ignorância como sendo uma das causas do pecado do primeiro homem, enquanto Abelardo, seguido pela escola porretana, inovava radicalmente considerando que o pecado original presente em cada individuo, não implicava em uma verdadeira e efetiva culpa, mas refletia somente a necessidade de assumir a danação eterna por causa da culpa do primeiro homem.
Anselmo de Canterbury, por sua vez, interpretou o pecado original como a privação da retitude da qual Adão inocente gozava enquanto no estado de natureza pura. Os grandes mestres do XIII século re-elaboraram estas tradições e formularam teorias de ascendência agostiniana e anselmiana.
A perspectiva anselmiana foi retomada particularmente por Tomas de Aquino, que fez da retitude e da justiça original o termo de confrontação do seu ponto de vista. Utilizando seu poder analítico, Tomas levantou uma serie de interrogações cuja resposta viria a permitir a composição do quadro da sua concepção. À pergunta se o pecado original havia sido cometido por orgulho, Aquino responde com uma exposição muito significativa para a nossa problemática. O pecado, ele precisou, consiste em uma ou mais formas de desordem “inordinatio”, e, ainda antes de se consolidar em um ato completo, se realiza como um movimento da alma em relação ao seu fim. Conseqüentemente, o primeiro pecado resulta de um desejo descontrolado. Segundo Tomas, não se trata de um desejo carnal, sendo o corpo, no estado de natureza, perfeitamente submisso à alma, mas de um desejo descontrolado porque não previsto pela própria natureza. Mais precisamente, este desejo era por ter mais “excelência”, em outras palavras, devido à sua semelhança com Deus, Adão almejava possuir mais conhecimento em relação ao bem e ao mal. Por ser assim, Adão, pecou por orgulho, porque o desejo surgiu por almejar um bem desmedido e inadequado à natureza humana.
Ora, aquilo que para Tomas constituiu o exemplo do pecado original, em verdade reside na desordem e no funcionamento desregrado das faculdades que dizem respeito ao fim ultimo. Por isso, o pecado original resultou em uma definitiva dissolução da harmonia e da retitude que caracterizavam o estado de natureza. O primeiro pecado subverteu a ordem das faculdades da alma, a sua orientação, e a sua submissão ao fim ultimo: “est enim quaedam inordinata dispositio proveniens ex dissolutione illius harmoniae in qua consistebat ratio originalis iustitiae”. A dissolução daquela harmonia abriu a porta que fez com que as faculdades passassem a se endereçar ao próprio bem particular, subvertendo, assim, a ordem hierárquica que a guiava à obtenção do bem supremo.
O pecado original, deste modo, para Tomas, não é principalmente ou essencialmente devido à concupiscência: esta intervem como elemento material, mas não define formalmente a transgressão de Adão. Do ponto de vista formal, a causa do pecado de Adão tem que ser procurada na relação com a justiça que caracterizava o estado de natureza. Consistindo essa na submissão do homem a Deus, o pecado que corrompeu o estado de natureza só pode derivar da vontade de se desligar do fim ultimo e da tentativa de se subtrair à submissão a Deus. O elemento formal do pecado, então, é a privação da retitude e da justiça original, enquanto o elemento material reside na concupiscência entendida como desejo desordenado.

Esta definição, uma aproximação da solução tomasina com a anselmiana, é importante, porque diz respeito à exemplaridade e à transmissão do pecado original: não sendo esse causado por uma desordem inserida nas faculdades sensitivas, mas a subversão ao ordenamento equilibrado de todas as faculdades, o seu elemento formal é reconhecível em todos os pecados individuais, em cada transgressão, ou ato de maldade cometido pelo homem.
3 – pecado individual e pecado original: elementos da sua relação.
Chegamos assim ao nosso quesito principal: qual é a relação do mal de cada individuo no que diz respeito ao pecado de Adão? Qual é a articulação entre os males que cada individuo comete particularmente, e o mal que deixou a sua marca indelével sobre toda a humanidade? Um importante esclarecimento se encontra na analogia da relação entre o pecado atual e o pecado original, de um lado, e o pecado pessoal e pecado de outra natureza, do outro. Pecado, na acepção da palavra, é o pecado atual, cometido voluntariamente por um individuo. O pecado original, também foi um pecado pessoal, porque foi cometido por Adão. Entretanto, como Adão foi o primeiro homem da estirpe humana, ele não foi só um individuo em particular, mas aquele que permitiu realizar o desejo de Deus, ou seja, da raça humana. Assim, ele representa a origem humana de cada ser humano.
Adão foi, concomitantemente, pessoa e natureza: por isso cada individuo, em si mesmo, a ele está ligado por ter sido ele o representante da unidade da espécie: “omnes homines qui nascuntur ex Adam, possunt considerari ut unus homo, inquantum conveniunt in natura”. Em virtude dessa amarração – platonicamente entendida – de participação à mesma natureza, a condição de Adão exemplifica a condição humana seja no bem como no mal.
No âmbito da nossa problemática, isso significa que o pecado de Adão não foi somente um pecado pessoal, mas também um pecado de natureza: “primum autem peccatum primi hominis non solum peccantem destituit proprio et personali bono, scilicet gratia et debito ordine animae, sed etiam bono ad naturam communem pertinentem”. Por isso o pecado original é transmitido de geração para geração a cada individuo, e assim sendo, cada um o trás em si mesmo esculpido na própria natureza como uma marca indelével. Esta transmissão é inelutável: isso significa que a “vontade” de cada individuo já é por natureza impura, porque é despida da retitude e da justiça original (elemento formal do pecado). Conseqüentemente, as faculdades sensitivas se endereçam desordenadamente no rumo dos próprios bens particulares (os bens materiais).
Então, a perda da retitude original está na raiz de cada pecado e de cada mal: cada pecado atual e pessoal, apresenta, assim, o mesmo elemento formal, quer dizer, a mesma desordem e desregulamentação das faculdades, porque estas não mais se submetem à razão. Este fato também impede que o verdadeiro bem seja procurado.
O mal individual, portanto, está estritamente ligado ao mal universal que golpeia a inteira humanidade: é um relacionamento que deriva, no que diz respeito o aspecto formal do vicio ou do pecado - a desordem e a desregulamentação - enquanto o aspecto material permanece pessoal em quanto produzido pelo livre arbítrio de cada individuo.
A universalidade do pecado de Adão, se inscreve, assim, na condição de cada individuo: o pecado atual e pessoal (culpa personae), trás sempre consigo o pecado original e universal (culpa naturae).
É importante relevar como, no âmbito desse contesto, Tomas de Aquino dá provas de um realismo muito acentuado, sobretudo se comparado com o “realismo moderado” da historia dos universais, o pecado de natureza cometido por Adão influiu efetivamente em cada individuo, e desta influencia depende formalmente o seu destino moral.
Em base a articulação do individuo com a própria natureza, o mal do homem apresenta um caráter não-deleitável. O pecado original é, de uma forma ou de outra, sempre presente – como um “languor naturae” diz Tomas, condicionando, portanto, a ação do individuo. Essa conseqüência é admitida por uma boa parte dos pensadores medievais, e entre eles Tomas de Aquino. Nenhuma criatura, ele declarava, se considerada no plano da sua condição natural, tem como não pecar. E isso porque nenhuma criatura pode abdicar da sua condição de falta de retitude em suas ações, quando essa ação não é orientada no sentido do fim ultimo e guiada pela vontade divina. Nessa perspectiva só Deus pode não pecar, porque a sua vontade é a única que não está submetida a uma normativa superior.
A concepção ontológica e moral que caracteriza cada criatura, se repercute em suas ações, pelo menos sob a forma de potencialização da vontade: desta forma, mesmo sendo endereçada ao bem, pode falhar na escolha dos meios ou dos métodos para conseguí-lo. E essa inaptidão se traduz em ações desordenadas e defeituosas, em outras palavras, no pecado do mal. Cada criatura, assim sendo, por ser falível, pode fazer o mal, ou melhor, se furtar de fazer o bem com a finalidade ultima requerida pela moralidade.
Mas, esta possibilidade de praticar o mal, fundada ontologicamente sobre uma potencialidade a respeito do bem que não pode ser atualizada, deriva, no plano moral, do “inordinatio” do primeiro pecado, permanece no plano do possível ou forçosamente se espraia em uma forma de necessidade?
Da resposta a essa interrogação depende o caracter inelutável do mal cometido pelo homem, e, conseqüentemente, a questão essencial no âmbito da moral de sua responsabilidade: seria em verdade duvidoso considerar o homem responsável por ações que de uma forma ou de outra são influenciadas por aquele Adão que o antecedeu? Se a resposta a essa interrogação pode parecer obvia, pelo fato dos teólogos medievais, e por Tomas em particular, ponderarem que é impensável privar o ser humano da própria liberdade e responsabilidade, vale a pena considerar de perto a argumentação tomasina, porque essa permitirá esclarecer ulteriormente a articulação do mal moral individual, com o pecado universal ou de natureza transmitido por Adão a toda a raça humana.
Respondendo á pergunta se o homem pode, baseado nas suas capacidades naturais, evitar o mal, Tomas de Aquino distingue entre o “estado de natureza integra” e o estado de “natureza corrompida”, quer dizer, entre a condição de Adão inocente, ou a de não inocente, condição esta ultima que sucedeu ao pecado. No estado de inocência, o homem podia efetivamente não pecar, porque, estando de posse da justiça original, ele agia de acordo com a hierarquia ordenada pelas suas faculdades e em obediência ao fim ultimo.
Depois do pecado de Adão, no entanto, tendo-se corrompida a natureza depois da primeira “inordinatio”, o homem não tem mais como, baseando-se exclusivamente nas suas capacidades naturais, de evitar totalmente de fazer o mal. Ele pode evitar o pecado mortal fazendo uso reto da razão, ou seja, orientando a própria mente e a sua ação no sentido do fim ultimo. Não pode, contudo, abster-se totalmente do pecado venal, em outras palavras, de evitar de agir desordenadamente no sentido de fazer o bem, mesmo mantendo a razão orientada para o fim ultimo.
A este ponto, é necessário tomar ciência que estamos diante de uma forma de necessidade: o homem não pode não pecar, porque é levado a fazer o mal - e realmente o faz – uma vez que é incapaz de agir atendendo sempre, e o mais perfeitamente possível, as normas da razão e do fim ultimo. Porque se assim não fosse, significaria fazer dele um ser perfeito, e, portanto, similar a Deus.
Tomas fornece duas razões dessa necessidade “sui generis”: a primeira é a corrupção das faculdades sensitivas, as quais, como vimos, depois da primeira “inordinatio”, dirigem-se no sentido de seus próprios bens particulares; aqui a razão pode intervir e corrigir a orientação do sentido, mas não pode fazê-lo sistematicamente em todos os casos. O segundo motivo reside no fato de que a razão nem sempre esta suficientemente vigilante para poder controlar e corrigir todos os atos originados das faculdades inferiores.
A argumentação tomasina chega assim à conclusão que se o homem não é, obviamente, obrigado a pecar, pelo outro lado ele não consegue se abster disso completamente: podemos considerar que é exatamente essa a situação do ser humano a respeito da sua maneira de agir, porque é uma “necessidade de fato” que em ultima analise deve ser atribuída ao limite que está intrínseco a cada criatura, seja no plano ontológico como no moral.
É oportuno sublinhar, que na ótica tomasina esta necessidade não compromete de forma alguma a responsabilidade da ação, e não torna o homem impotente diante da obra que por ele espera: ao contrario, pretende esclarecer que o ser humano nem sempre é senhor da sua conduta, mesmo quando a sua razão está voltada ao bem supremo. Aquino evidencia, desta forma, os aspectos que existem entre o conhecimento da verdade e do bem, por um lado, e o agir voltado a sua consecução do outro, ou ainda, no plano das faculdades, entre o saber do intelecto e a adesão da vontade: É no espaço entre essas definições que a liberdade humana assume o fundamento da atitude moral e da sua responsabilidade. Cada individuo, por conseguinte, ao mesmo tempo em que é empurrado a fazer o mal pela desregulamentação esculpida na sua condição devido ao pecado de Adão, é também livre de se opor a ele, se submeter a idéia da sua ação, antes de praticá-la, à luz da razão.
Dessa forma ilumina-se a dialética entre a condição de natureza e a liberdade da pessoa: As atitudes de cada individuo não podem prescindir desta dialética, mas podem superá-la corrigindo o impacto do “inordinatio” provocado pelo pecado de Adão. Independentemente desta superação, entretanto, permanece o fato que na ótica tomasina o ser humano é sempre, e em qualquer hipótese, estritamente amarrado ao pecado original, o qual, enquanto pecado de natureza, continua na origem de todas as formas de desordem através das quais a liberdade do homem é constantemente chamada a se medir.

4 – O individuo com, e além da própria natureza.
A dialética do particular e do Universal, e da pessoa e da natureza, é o âmago da problemática moral na perspectiva de Tomas de Aquino. Cada individuo, segundo ele, queira ou não, é portador de uma natureza da qual participa e na qual encontra, tanto a sua razão de ser, quanto às determinações que sinalizam a condição de ser homem. Estas determinações são duplas: por um lado, a natureza humana é uma imagem de quem a criou, e por assim ser, é chamada a realizar a união com Deus na visão da sua essência; do outro, a natureza humana carrega consigo a marca do pecado de Adão que a privou da sua retitude e justiça original.
É importante sublinhar, nesse momento, que a ação moral se inscreve na dinâmica deste duplo relacionamento do individuo consigo mesmo. O mal Universal, que é o resultado do primeiro pecado, indica a discrepância entre o individuo e a sua própria humanidade. A teoria tomasina do pecado original exterioriza inicialmente a relação de cada individuo com a própria capacidade de fazer o mal, associando-a ao pecado de Adão, e a interioriza, depois, no pequeno espaço que existe entre o individuo e o traço de humanidade que ele carrega consigo. O individuo, entretanto, não é a humanidade, mas é chamado a aderir à própria humanidade enquanto imagem do Criador, e a superar o obstáculo que é representado pelo “inordinatio” inicial que determina a sua condição. Desse modo, o homem é chamado ao mesmo tempo a “ser como é” e a ir “alem da própria humanidade”. A primeira é a dinâmica de encontrar a si mesmo e reconhecer o valor normativo da própria humanidade, e a segunda, é a dinâmica de uma superação com o objetivo de restabelecer a ordem das faculdades orientando-as ao fim ultimo. Agir moralmente, então, pode ser entendido como um esforço para abrir uma terceira via entre a natureza intrinsecamente boa, e a condição humana de falibilidade provocada por Adão. Nesse conceito reside o fundamento daquele mal Universal que impede que o home pratique tão somente o bem.
A senda a percorrer para a concretização dessa superação, é aquela do restabelecimento da ordem das faculdades e da adequação á normativa da razão. Para Aquino, no plano das capacidades naturais do homem, não existe outra senda a não ser esta: devolver à razão o seu devido lugar e reconhecer nela o valor normativo e Universal. Nessa ótica, ele constrói a sua teoria aristotélica da temperança, uma vez que “a medida da virtude não se situa no plano quantitativo, mas resulta da adequação à normativa da razão”.
O mal, em definitivo, resulta sempre de um distanciamento da normativa ditada pela razão, ou seja, de negar a prioridade ao que, na ótica de Tomas, constitui a bagagem do ser humano, e reassumir a humanidade que participa do homem.
Isso implica, porem - como agir moralmente é algo factível a todos - que muito antes disso cada individuo faça a sua “lição de casa”, seja no que diz respeito a si mesmo, como no que diz respeito à humanidade. Resulta disso que, como o mal moral no plano pessoal é sempre atrelado ao mal Universal - cujo significado e transmissão provem do primeiro pecado, assim o bem realizado a nível individual não pode ser desvinculado da relação com a universalidade da normativa da razão por um lado, e da universalidade da humanidade do outro.
Resumindo: na ótica tomasina a raiz do mal está em uma condição que determina que o homem o realize, mas ao mesmo tempo não exige que ele o exerça, uma vez que ele pode decidir ir alem da sua condição e aderir mais firmemente à própria humanidade. Se pratica o mal, significa que está desertando da sua humanidade, e se o combate, quer dizer que ele deseja se reconciliar com ela e conseqüentemente com toda a humanidade. Com ou alem da sua finitude e falibilidade, o homem é um ser livre: livre para orientar a sua existência em um ou no outro sentido.
O objetivo do homem microcosmo - horizonte do mundo corpóreo e espiritual - está em si mesmo, porque nele reside a força que lhe permite livremente escolher se deseja viver como um animal, como um anjo, ou como homem.
Segundo Aquino, no âmbito das capacidades naturais do homem, é para a ultima opção que todo o individuo é chamado, porque, alem de refletir a si mesmo, ela corresponde à sua natureza de ser racional.
Esta parece ser a resposta de Tomas de Aquino ao mistério do mal, porque o individuo, mesmo se inscrito na condição finita do homem, esta condição não lhe esgota a natureza humana, porque pode e deve ser superada na medida que cada um, através de uma dinâmica particular de reencontro consigo mesmo, adere à própria humanidade.
Ancorada no relato do livro Gênese, e elaborada em perfeita harmonia com a tradição cristã e integrada a motivações aristotélicas, a regra da razão dionisíaca diz que a natureza é essencialmente boa. Dessa maneira a posição de Aquino, com o seu otimismo antropológico, parece deixar substancialmente intacta a razão pela qual “o homem obra o mal” que todos nos testemunhamos.
A ética de Tomas de Aquino, assim como aquela de seus contemporâneos, não podia admitir o mal desassociado ao mito da Gênese, e a resposta à pergunta que ele fazia a si mesmo, para poder desenvolver a sua teoria, permanecia inteiramente condicionada ao texto que até hoje, depois de aproximadamente 4 mil anos, continua sendo entendido como uma obra patrocinada por aquele deus vingativo chamado Jwhw.
Dessa forma, o mistério do mal pelo qual cada individuo desenvolve a própria experiência permanecia na escuridão. Continua o fato que, associando indissoluvelmente o individuo a sua própria natureza de homem, e da humanidade inteira, a resposta tomasina rasgava, pelo menos parcialmente, o véu da solidão diante do mal: Sim, o mal do individuo não é só dele. A solidariedade que existe na condição de homens e a responsabilidade que ela deve gerar a respeito de uma lição tanto individual como coletiva, mantem aberta à perspectiva na direção de uma superação – sempre possível e nunca inteiramente realizada – do mal, porque esse, mesmo se é profundamente humano, não é inelutável.
Desse modo, se desvencilharmos a ótica tomasina (este teólogo viveu de 1225 a 1256, logo, 564 antes do trabalho de Charles Darwin), do livro Gênese e a endereçarmos ao conceito do design inteligente, sem marginalizar a teoria da evolução porque são partes integrantes do mesmo cenário, é um mero exercício mental concluir que “a raiz do mal” reside no fato que o espírito que habita o homem é o mesmo que há milhões de anos foi agregado pelos engenheiros do espaço àquele que mais tarde, utilizando o sílex, ainda aguardava que lhe fossem impressas novas expressões biológicas.
A primeira característica peculiar dos hominídeos foi à aquisição - aprendizado - da locomoção bípede e de uma posição corpórea sempre mais ereta.Uma conseqüência disso foi à completa liberação das mãos que desta forma puderam inicialmente ser utilizadas para fins pessoais e em seguidas para a fabricação de utensílios para a sua defesa, mesmo se inicialmente só utilizavam materiais sem modificá-los, coisa que até hoje fazem os chimpanzés e outros símios.
A segunda característica, também típica dos hominídeos, mas que envolveu maiormente só o gênero “homo”, foi à expansão do cérebro. No arco de três milhões de anos o volume encefálico passou dos 400-500 ml. dos Australopithecus - pouco superior daquele dos atuais chimpanzés - aos 700-800 ml. do “homo habilis”, aos 900-1000 do “homo erectus” até a media de 1200-1300 ml. do atual “homo sapiens”.
Mas não é só a capacidade encefálica que determina o índice de inteligência. Para criar espaço ao sempre maior número de neurônios requerido pelo crescente aumento de informações e conseqüente memorização, o cérebro dos hominídeos ganhou uma série de circunvalações e de fissuras muito maior do que possuía antes, como é demonstrado pela comparação entre o cérebro do chimpanzé e do homem moderno.

Cérebro de chimpanzé Cérebro do homem moderno

Aqueles hominídeos que para conquistar seu espaço no ambiente inóspito da savana, antes de aprenderem a caçar, por longo tempo foram alimento dos predadores, tiveram que desenvolver adequados meios de defesa para garantir a sobrevivência e a reprodução da espécie.
Inicialmente, suas armas se constituíam de galhos de arvores, ossos fêmures de animais e pedras, até na idade do sílex aprenderem a trabalhá-las para transformá-las em pontas de laças e instrumentos de corte. Desse modo se instruíram a prever os perigos e a desenvolver a cultura para com eles coexistir, ou quando imprescindível, a enfrentá-los com a segurança permissível. Os perigos, entretanto, não advinham somente dos fenômenos da natureza, dos predadores, ou do enfrentamento com os grandes animais para fazer da sua carne alimento e da pele abrigos para o frio, porque em sua luta pela sobrevivência não havia “espaço” para se respeitarem mutuamente. O mais forte suprimia o mais fraco, animal ou homem que fosse, se este possuía o que ele necessitava, não se importando se era alimento, abrigo ou mulher, assim como os lobos de uma alcatéia disputam até a morte a liderança ou uma fêmea qualquer.
A vivencia destes episódios ao longo dos milênios, esculpiu no “constrito racional” daqueles seres, na medida em que se repetiam, os critérios que, transferindo-se para principio espiritual que os animava – o inconsciente - pouco a pouco forjou seus instintos, os impulsos irreflexos que até hoje, despidos dos aspectos não mais necessários e enriquecido pelos aperfeiçoamentos resultantes das sucessivas experiências vividas em cada reencarnação, determinam em cada individuo, de acordo com as poucas ou muitas alterações inseridas pelos exemplos morais que viu acontecer ao seu redor, a sua conduta.
Sigmund Freud, dizia que os instintos são pressões que dirigem um homem para determinados fins particulares, e quando usava esse termo não se referia aos complexos padrões herdados dos animais inferiores, mas aos que se tornaram seus equivalente humanos depois que o homem, ao longo da sua caminhada, os depurou.
Sabemos, entretanto, pelo que é nos dito do Alto, que no espaço da alma que abriga o inconsciente, nada é perdido e coisa nenhuma se transforma. Simplesmente, caindo em desuso, permanece adormecido, mas apto a despertar no momento em que seu conteúdo se torna necessário para enfrentar as dificuldades que uma mudança de habitat ou de ambiente social pode provocar. Sua maior ou menor veemência, entretanto, é estabelecida pela razão, ou seja, o que o homem, em termos racionais, impõe a si mesmo.
Se um animal, um cão sem dono por exemplo, agride alguém, de quem é a culpa? Com certeza daquele que foi mordido porque não se acautelou. Mas se a agressão parte de um homem? A diferença reside no fato que enquanto o cão é movido só por instintos, o homem, de posse da inteligência, refletindo em relação as suas ações, raciocina e raciocinando (considerando que no mundo os parâmetros entre o bem e o mal estão bem definidos), a não ser que esteja mentalmente enfermo, tem a capacidade de discernir se a sua ação é correta ou incorreta, em outras palavras boa ou má. Desse modo, quando agindo incorretamente prejudica seu semelhante, merece ser reprimido e castigado. Para isso existem as leis. Estas, como sabemos, surgem do convívio social, de onde o ser humano deve adquirir seus valores, sua educação e cultura, e através dessas noções dar alguma direção, algum objetivo, alguma utilidade ou sentido social à sua vida.
Freud, que seu malgrado não estava muito longe da verdade, dizia que no homem os instintos podem sofrem grandes alterações devido a sua vontade, a sua inteligência, e pelo ambiente em que vive, mas estas alterações só podem inibi-los, camuflá-los ou transformá-los, mas jamais destruí-los.
Como vimos, a escada que o homem tem que galgar (a sua revelia porque é lei divina), para seguir seu caminho rumo a angelitude, possui uma infinidade de degraus, e cada degrau corresponde a uma imperfeição, melhor dizendo, a um daqueles instintos que, de acordo com a situação que vive, tentando satisfazer a si próprio, prejudica mesmo minimamente seu semelhante. Contudo, como os instintos jamais são eliminados, a não ser por ocasião da terceira morte, o homem, utilizando seu intelecto, pela repetitividade de “boas obras”, transforma suas ações em novos instintos e, cuidando para que somente estes impulsionem seus atos do dia a dia, deixa que os velhos durmam um sono cada vez mais profundo até não mais terem como despertar. Assim sendo, retornando à ótica tomasina, se continua praticando o mal, significa que está desertando da porção de racionalidade que já enriqueceu o seu Eu, e se o combate, quer dizer que deseja se reconciliar com ela e por conseguinte com toda a humanidade.

INCERTEZAS DO CAMINHO

A imensidão do mundo, para alguns, é prova da existência de Deus. Para outros, um exemplo do processo de evolução da Terra. Em Dover, na Pensilvânia - EUA – o aluno de 18 anos diz: “todos nos viemos de Deus. Os jovens não deviam aprender que o homem veio do macaco”. A estudante de 14 anos discorda: “nos não temos que aprender religião na sala de aula. Especialmente na classe de biologia”. A discussão que começou na escola terminou nos tribunais e chamou a atenção do país inteiro. Onze casais que tem filhos no colégio processaram o Conselho de Educação e Cultura de Dover porque, agora, os professores de biologia são obrigados a dizer que a evolução natural, de Charles Darwin não é a única teoria a respeito da teoria da origem da vida. Eles têm que mencionar, também, o criacionismo.
Os criacionistas dizem que os animais se tornaram cada vez mais complexos porque algum desenhista muito inteligente fez mudanças em varias fases da evolução. O pastor Warren Eschbach diz: Naturalmente, os alunos vão querer saber quem foi esse desenhista. E o nome de Deus vai surgir.
O caso foi julgado e o juiz vai dar o veredicto no mês que vem. E o presidente George Bush diz que a tese deve ser apresentada nas escolas, ao lado da teoria da evolução natural. O Museu de Historia Natural de Nova Iorque entrou no debate.
A opinião dos americanos sempre esteve dividida. Metade acredita no criacionismo e a outra metade na teoria da evolução natural. Em um momento de tanto debate no país, uma exposição no museu defende, com veemência, as teorias de Charles Darwin.


A mostra conta como Darwin chegou às conclusões que revolucionaram a ciência. Desde criança, ele era fascinado pela natureza. Na América do Sul, viu diferentes tipos de plantas e animais. Tartarugas com um casco que lhe permitia levantar o pescoço se alimentavam de plantas mais altas. Ma, nas ilhas de vegetação rasteira, elas tinham cascos em forma de cúpula que as obrigava a comer de cabeça baixa.
Darwin notou diferenças e muitas semelhanças em vários grupos de animais. Foram cinco anos de expedição e outros 20 para escrever o livro “a origem das espécies”. Neste explicou que os animais que melhor se adaptam ao meio ambiente são os que sobrevivem, e são estes que passam suas características às gerações seguintes.
O Museu mostra, lado a lado, os esqueletos de vários mamíferos. Embriões de morcego, rato e cavalo. Quase idênticos a não ser no tamanho. Prova de que os animais têm ancestrais comuns.
Ellen Futter, diretora do Museu, diz que a discussão sobre o ensino do criacionismo revela o baixo nível do conhecimento e da educação cientifica nos Estado Unidos. Na competição mundial de conhecimentos sobre matemática e ciência, os alunos da maior potencia mundial ficaram em 17º lugar.
Os Estados Unidos, que chegaram primeiros à lua e inventaram o computador, agora estão contestando, nas escolas, a teoria que explica a origem e a evolução da vida na Terra. Esta semana os criacionistas de Dover perderam nas urnas. Os oitos republicanos que defendiam a teoria perderam a eleição para o Conselho de Educação. Oito democratas foram eleitos para o lugar deles.
O reverendo Pat Robertson ameaçou os moradores da cidade depois da eleição: se houver um desastre na região de vocês, não peçam ajuda a Deus, pois vocês acabaram de rejeitá-lo. Mas o pastor Eschbach não vê conflito entre religião e ciência. Diz que a criação do mundo em sete dias e do homem a partir de Adão e Eva, são simbolismos bíblicos, que não foram escritos para serem levados ao pé-da-letra. “A bíblia não foi escrita para se tornar um livro cientifico do século 21”, diz.
Fonte: Fantástico.Globo.com. 20 de novembro 2005

DESIGN INTELIGENTE

Sob a orientação misericordiosa e sábia do Cristo, laboravam na Terra numerosas assembléias de operários espirituais.
Como a engenharia moderna, que constrói um edifício prevendo os menores requisitos de sua finalidade, os artistas da espiritualidade edificavam o mundo das células iniciando, nos dias primevos, a construção das formas organizadas e inteligentes dos séculos porvindouros.
O ideal da beleza foi a sua preocupação dos primeiros momentos, no que se referia às edificações celulares das origens. É por isso que, em todos os tempos, a beleza, junto à ordem, constituiu um dos traços indeléveis de toda a criação.
As formas de todos os reinos da natureza terrestre foram estudadas e previstas. Os fluidos da vida foram manipulados de modo a se adaptarem às condições físicas do planeta, encenando-se as construções celulares segundo as possibilidades do ambiente terrestre, tudo obedecendo a um plano preestabelecido pela misericordiosa sabedoria do Cristo, consideradas as leis do principio e do desenvolvimento geral.
Uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos.
Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicaram prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos.
Com o escoar incessante do tempo, esse seres primordiais se movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um sentido, o do tato, que deu origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos superiores.
Decorrido muito tempo, eis que as amebas primitivas se associam para a vida celular em comum, formando-se as colônias de infusórios, de polipeiros, em obediência aos planos da construção definitivos do porvir emanados do mundo espiritual onde o progresso da Terra tem a sua gênese.
O reino vegetal e animal parecem confundir-se nas profundidades oceânicas. Não existem formas definidas nem expressão individual nessa sociedade de infusórios; mas, desses conjuntos singulares, formam-se ensaios de vida que já apresentam caracteres e rudimentos dos organismos superiores.
Milhares de anos foram precisos aos operários de Jesus, nos serviços da elaboração paciente das formas. A principio, coordenam os elementos da nutrição e da conservação da existência. O coração e os brônquios são conquistados e, após eles, formam-se os pródromos celulares do sistema nervoso e dos órgãos da procriação, que se aperfeiçoam, definindo-se nos seres.
A atmosfera ainda está saturada de umidade e vapores, e a terra sólida está coberta de lodo e pântanos inimagináveis. Todavia, as derradeiras convulsões interiores de orbe localizam os calores centrais do planeta, restringindo a zona das influências telúricas necessárias à manutenção da vida animal.
Esses fenômenos geológicos estabelecem os contornos geográficos do globo, delineando os continentes e fixando a posição dos oceanos, surgindo desse modo, as grandes extensões de terra firme, aptas a receber as sementes prolíficas da vida.
Os primeiros crustáceos terrestres são um prolongamento dos crustáceos marinhos. Seguindo-lhe as pegadas, aparecem os batráquios que trocam as águas pelas regiões lodosas e firmes.
Nessa fase evolutiva do planeta, todo o globo se reveste de vegetação luxuriante, prodigiosa, de cujas florestas opulentas e desmesuradas as minas carboníferas dos tempos modernos são os petrificados vestígios.
Nessa altura, os artistas da criação inauguram novos períodos evolutivos no plano das formas. A natureza torna-se uma grande oficina de ensaios monstruosos. Após os répteis, surgem os animais horrendos das eras primitivas.
Os trabalhadores do Cristo, como os alquimistas que estudam a combinação das substancias na retorta de acuradas observações, analisavam, igualmente, a combinação prodigiosa dos complexos celulares, cuja formação eles próprios haviam delineado, executando, com as suas experiências, uma justa aferição de valores, prevendo todas as possibilidades do porvir.
Todas as arestas foram eliminadas. Aplainaram-se dificuldades e realizaram-se novas conquistas. A máquina celular foi aperfeiçoada no limite do possível em face das leis físicas do globo. Os tipos adequados a Terra foram consumados em todos os reinos da Natureza, eliminando-se os frutos teratológicos e estranhos do laboratório de suas perseverantes experiências.
A prova da intervenção das forças espirituais, nesse vasto campo de operações, é que, enquanto o escorpião, gêmeo dos crustáceos marinhos, conserva até hoje, de modo geral, a forma primitiva, os animais monstruosos das épocas remotas, que lhe foram posteriores, desapareceram para sempre da fauna terrestre, guardando os museus do mundo as interessantes reminiscências de suas formas atormentadas.
O reino animal experimenta as mais estranhas transições no período terciário sob as influências do meio e em face dos imperativos da lei de seleção.
Mas, o nosso raciocínio ansioso procura os legítimos antepassados das criaturas humanas nessa imensa vastidão do proscênico da evolução do homem.
Onde está Adão com sua queda do paraíso? Debalde nossos olhos procuram, aflitos, essas figuras lendárias, com o propósito de localizá-las no Espaço e no Tempo. Compreendemos, afinal, que Adão e Eva constituem uma lembrança dos Espíritos degredados na paisagem obscura da terra, como Caim e Abel são dois símbolos para a personalidade das criaturas.
Examinada, porém, a questão nos seus prismas reais, vai encontrar os primeiros antepassados do homem sofrendo os processos de aperfeiçoamento da Natureza.

No período terciário a que nos reportamos, sob a orientação das esferas espirituais notavam-se algumas raças de antropóides no Plioceno inferior. Esses antropóides, antepassados do homem terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do chimpanzé da atualidade.
Reportando-nos, todavia, aos eminentes naturalistas dos últimos tempos, que examinaram meticulosamente os transcendentes assuntos do evolucionismo, somos compelidos a esclarecer que não houve propriamente uma “descida da arvore”, no inicio da evolução humana.
As forças espirituais que dirigem os fenômenos terrestres sob a orientação do Cristo estabeleceram, na época da grande maneabilidade dos elementos materiais, uma linhagem definitiva para todas as espécies, dentro das quais o principio espiritual encontraria o processo de seu acrisolamento, em marcha para a racionalidade. Os peixes, os répteis e os mamíferos tiveram suas linhagens fixas de desenvolvimento e o homem não escaparia a essa regra geral.
Os antropóides das cavernas espalharam-se, então, aos grupos, pela superfície do globo no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as influências do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus tipos diversificados; a realidade, porém é que as entidades espirituais auxiliaram o homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas. Extraordinárias experiências foram realizadas pelos mensageiros do invisível. As pesquisas recentes da Ciência sobre o tipo de Neanderthal, reconhecendo nele uma espécie de homem bestializado, e outras descobertas interessantes da Paleontologia em relação ao homem fóssil, são uns atestados dos experimentos biológicos a que procederam aos prepostos de Jesus, até fixarem no “primata” as características aproximadas do homem futuro.
Os séculos correram o seu velário de experiências penosas sobre a fronte dessas criaturas de braços alongados e de pelos densos. Até que um dia, as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo perispiritual pré-existente dos homens primitivos, nas regiões siderais e em certos intervalos de suas reencarnações. Surgem assim os primeiros selvagens de compleição melhorada, tendendo à elegância dos tempos do porvir. Uma transformação visceral verifica-se então na estrutura dos antepassados da raça humana.
Fonte: Livro ”A Caminho da Luz” pelo espírito Emmanuel
e psicografia de Francisco Candido Xavier.

EVOLUÇÃO NATURAL OU CRIACIONISMO

O deslumbramento diante da natureza sempre provocou no homem uma indagação: quem, ou como tudo isso foi criado? (no segundo capitulo, sob a voz “o inicio do mundo” evidenciamos que a maioria dos povos primitivos respondeu a essa indagação de forma análoga e muito semelhante à que é descrita no livro Gênese).Com a “morte” das religiões pagãs comandada pela igreja de Roma através do Edito de Tessalonica - promulgado pelos imperadores Graziano e Teodosio em 380 d.C., e o conseqüente engrandecimento do cristianismo (somando-se aos cristãos os hebreus e os islâmicos), até meados do século XIX para essa mesma inquirição havia uma única resposta: de acordo com a bíblia - livro Gênese – todo o deslumbramento da natureza, inclusive o homem, foi criado por Deus.
Esta verdade prevaleceu até que em 1859, Darwin, superando sua perturbação porque estudara teologia para ser sacerdote, publicou o livro “A Origem das Espécies”. Mas, qual foi o motivo da perturbação que o levou a adiar por muitos anos a publicação da sua obra, mesmo se seu conteúdo, praticamente, havia sido a razão da sua vida? Simplesmente porque julgou que, por contrariar o que diz a bíblia a respeito da criação, estava separando Deus da ciência. Esta, ainda hoje considera Darwin o herói que conseguiu libertá-la dos laços que a retinha vinculada a Deus.
O golpe final na sua crença religiosa, segundo os biógrafos, foi à morte da sua filha mais velha, Annie, quando contava com dez anos de idade. Quando Darwin morreu, em 1882, dizia-se Agnóstico.
Darwin fora um grande cientista e homem religioso, pelo menos até a morte da filha. Porque, então, acreditou que suas comprovações arrancavam de Deus a responsabilidade da criação? Nos cinco anos que passara entre as tartarugas gigantes, aves e lagartos exóticos, teve sua atenção atraída pelo fato que muitas das espécies eram semelhante as que existiam no continente, mas apresentavam pequenas diferenças de uma ilha para outra. A explicação só podia ser uma: as primeiras espécies de animais chegaram às ilhas indo do continente. Depois, desenvolveram diferentes peculiaridades de acordo com as condições do ambiente de cada ilha. Ou seja, a evolução seguiu caminhos variados e este caminho foi determinado pelas características especificas de cada ilha.
O primeiro livro de Darwin afirmava ainda que todas as espécies teriam se originado de uma única forma básica de vida que existira há bilhões de anos “.
No seu livro seguinte, “A Origem do Homem”, publicado doze anos depois, ele teorizou que o ser humano era uma obra especial da natureza, não de Deus, e que tinha um ancestral que o ligava aos macacos.
As teorias de Darwin, abordadas no I capitulo sob o titulo “quem somos e de onde viemos”, aproveitando uma colocação do biólogo Niles Eldredge, curador da exposição “Darwin” e do departamento de paleontologia do Museu Americano de Historia Natural, há tempo deixaram de ser teorias, porque a paleontologia e depois dela a biologia molecular, se encarregaram de demonstrar que todos os seres viventes são descendentes de um único ancestral, e o antepassado do homem, como já vimos, é o Ramapithecus.

Ramapithecus

O Ramapithecus se transformou, assim, no ancestral comum a todos os hominídeos que o sucederam, e antecessor dos Australopithecus que eram considerados os progenitores da humanidade”. Sucessivamente, as evoluções dessa espécie foram chamadas: Homo erectus, homo habilis, homo sapiens, homo Neanderthal, Cro-Magnon e por fim a ultima forma do longo processo de humanização: o homo sapiens sapiens.”
Hoje, repetindo o que já foi dito, sabe-se que o homem moderno, por ser a evolução de um macaco, partilha com o chimpanzé – que é a espécie vivente que mais lhe está perto – mais de 98% do seu patrimônio genético. Portanto, o homem não foi moldado no barro como é descrito no livro Gênese... Então, este livro é um embuste?
Claro que não. O homem, já naquele longínquo passado, inconscientemente, no âmago do seu ser, sentia um fascínio que mesmo se não sabia explicá-lo, lhe dizia que era em algum lugar do Universo que se encontravam suas raízes. Sim, havia sido lá que Ele, com sua palavra sabia e compassiva, exortara aquelas almas desventuradas à edificação da consciência pelo comprimento dos deveres de solidariedade e de amor, no esforço regenerador de si mesmas. Destarte, quando por razões que somente os judeus do passado poderiam esplicar, acharam “um deus” que chamaram Jwhw... tudo o que ocorreu posteriormente foi só uma construção sobre a outra... porque até aquele momento os hebreus haviam sido um povo sem pátria e sem lar.

Retornando ao livro Gênese, a primeira parte é semelhante aos cenários que a imaginação das demais civilizações desenvolveram a respeito do inicio do mundo, e no que tange ao surgimento das plantas, dos animais, e até do próprio homem, a descrição é mais uma vez uma construção fantasiosa. Á pergunta que os sacerdotes devem ter feito a si mesmos antes de desenvolver seu tema: “de que forma Deus pode ter criado tudo”, análoga, com certeza, aos cenários que os cientistas contemporâneos elaboram para desenvolver suas teorias, obviamente foi respondida com as explicações simplistas que foram transcritas no livro Gênese.
Os cientistas contemporâneos, todavia, por se terem auto-divinizados, já não são mais simplistas, porque não perdem nenhuma oportunidade de se promoverem, e quando o fazem, a sua arrogância que não tem limites, se contradiz. Exemplos:

Vem ai o mundo dos homens e mulheres centenários. Se a expectativa de vida na Alemanha mantiver o crescimento atual, as meninas que nascem hoje naquele país viverão em media até os 100 anos.
A ONU estima que, nos Estados Unidos, uma em cada vinte pessoas que hoje tem cinqüenta anos viverá ainda meio século. No Brasil, existem cerca de 10.000 pessoas com mais de cem anos.
Diante dessa realidade, o sonho de que se possa viver muito alem dos cem anos se afigura cada vez mais possível. Mas não muito mais, pois há raros casos de pessoas que ultrapassam os 120 anos, idade que parece ser nosso limite natural. A questão que se coloca é: poderíamos transpor, com saúde, essa barreira biológica? Os cientistas americanos Robert Butler, do Centro Internacional de Longevidade de Nova York, Bruce Carnes, da Universidade de Chicago, e Jay Olshansky, da Universidade de Illinois, estudaram o assunto e concluíram que não. Para eles, se a evolução tivesse desenhado o corpo humano para durar um século ou mais com perfeição, nos teríamos uma aparência muito diferente da atual.
Butler, Bruce e Olshansky fizeram o exercício de imaginar como teria de ser o corpo de uma pessoa centenária e totalmente saudável, construído para a longevidade. O resultado é uma figura grotesca, que nem a mais avançada genética poderia conceber. Nós seriamos criaturas mais baixas, mais cabeçudas, mais orelhudas, encurvadas, de coxas e quadris mais largos. Tudo para evitar o desgaste natural causado pelo uso prolongado do corpo. Sem essas e outras mudanças, os idosos continuariam sofrendo com ossos frágeis, discos da coluna gastos, ligamentos destruídos, varizes, cataratas, perda de audição e hérnia. Uma das características estruturais mais importantes que precisariam ser modificadas é a coluna vertebral, que costuma apresentar os primeiros sinais de desgaste muito cedo. A postura correta do ser humano é uma adaptação de nossos ancestrais quadrúpedes.
Foi o que nos permitiu desenvolver a inteligência. Mas a coluna vertebral não evoluiu o suficiente para resistir ao peso de um corpo apoiado em apenas duas pernas. E isso trás sérios problemas físicos, como o desgaste dos discos entre as vértebras, que passa a pressionar as terminações nervosas da coluna, provocando dores insuportáveis.
O idoso de cem anos ideal imaginado por Butler, Carnes e Olshansky serve para mostrar que é mais importante prolongar a saúde do que perpetuar a vida. O envelhecimento está diretamente relacionado à função reprodutiva do ser humano. A natureza planejou homens e mulheres para se reproduzir e para viver tempo suficiente para criar seus filhos. O auge do bom funcionamento do corpo coincide com o período em que estamos mais aptos para reproduzir. Tanto homens como mulheres tem uma vida reprodutiva limitada. Com o tempo, as mulheres deixam de ovular e se reduz bastante a capacidade masculina de produzir espermatozóides. Quando acaba o auge da capacidade de reprodução, começa a decadência do corpo. Articulações, músculos e outros traços anatômicos que nos serviram tão bem durante a juventude começam a dar sinais de fraqueza. Certas doenças de caracter genético, cuja predisposição para aparecer é transmitida de geração para geração, como a doença de Alzheimer, só se manifestam em idades mais avançadas e, por isso, são “ignoradas” pela seleção natural. Ou seja, a natureza tende a selecionar as qualidades do individuo que o ajudam a sobreviver até a fase reprodutiva, e não aquelas que determinam uma velhice mais saudável. Por isso, do ponto de vista da evolução, a longevidade não trás vantagem alguma.
Alguns cientistas defendem que a ciência deve colocar todos os instrumentos possíveis a serviço do objetivo de estender a vida e retardar o envelhecimento, mesmo que o ser humano não tenha sido planejado para isso. A medicina do século XX identificou e eliminou as causas das doenças infecciosas, o que, junto com uma serie de mudanças no estilo de vida, como trabalhos menos pesados, ajudou a aumentar a media de vida da população. A medicina do século XXI procura a solução para as doenças vasculares, o cancer, as patologias degenerativas e as inflamações crônicas, males que acometem com freqüência pessoas idosas. A engenharia genética promete ser a chave para a cura dessas doenças e para a ampliação do limite da longevidade humana. Já se conseguiu localizar e modificar o gene que determina a longevidade em ratos. Em experimentos, o tempo de vida desses animais foi aumentado em 30%. Os pesquisadores acham que no futuro será possível fazer o mesmo com os seres humanos.
Na semana passada, o medico Nir Barzilai, do Instituto para Pesquisas do Envelhecimento, da Escola de Medicina Albert Einstein, nos Estados Unidos, divulgou o resultado de um estudo feito com 300 pessoas com cerca de cem anos e seus familiares. Os velhinhos entrevistados tinham hábitos sedentários e não faziam nenhuma dieta especial que justificasse a vida prolongada. A explicação é puramente genética. Barzilai diz ter descoberto um genes responsável por 18% da longevidade dessas pessoas centenárias. Segundo ele, empresas farmacêuticas dos Estados Unidos já pesquisam remédios que atuam sobre esse gene, retardando o envelhecimento.
Não faltam interessados em patrocinar o sonho da longevidade. Nos Estados Unidos, o bilionário John Sperling, empresário do setor de educação, fundou um instituto para desenvolver técnicas que aumentem a longevidade humana. Sperling, de 77 anos, decidiu que, quando morrer, sua fortuna de tres bilhões de dólares será destinada a esses estudos. As pesquisas com clones humanos divulgadas na Coréia do Sul no mês passado, que devem permitir a produção de tecidos para transplantes, também poderão ser usadas para aumentar a longevidade, ou pelo menos para fazer com que as pessoas tenham uma velhice mais saudável.
Fonte: revista Veja de 3 de março 2004

Nada como um dia atrás do outro, porque, como já vimos, “Uma comissão da Universidade Nacional de Seul, na Coréia do Sul, concluiu que o cientista coreano Hwang Woo-Suk falsificou dois relatórios considerados revolucionários na pesquisa das células-tronco de embriões humanos, mas teria sido capaz de produzir o primeiro clone de cachorro do mundo.O cientista coreano era considerado um herói na Coréia do Sul e ganhou vários prêmios e financiamentos do governo para as suas pesquisas. No entanto, ele agora foi contestado pelos próprios colegas da Universidade Nacional de Seul e, acusado de ter fraudado duas das principais descobertas de Woo-Suk, entre elas, uma técnica para criar células-tronco adaptadas sob medida ao DNA do receptor." Ele enganou a comunidade científica e o público em geral", afirmou o diretor da comissão que investigou as pesquisas de Woo-Suk, Chung Myung-Hee.
A promotoria coreana agora deve iniciar uma investigação criminal contra Woo-Suk, que não é visto em público desde o fim de dezembro.
Na época, ele insistiu ter descoberto a tecnologia para criar células-tronco sob medida. A técnica poderia abrir caminho para a cura de diversas doenças degenerativas.”
Fonte: BBC Brasil

Aubrey de Grey, gerontólogo biomédico da Universidade de Cambridge, acredita que a primeira pessoa que viverá até os mil anos de idade já nasceu, e disse no encontro que reparos periódicos no corpo, utilizando células-tronco, terapia gênica e outras técnicas, podem chegar a conter completamente o processo de envelhecimento.
De Grey argumenta que, se cada reparo durar 30 ou 40 anos, a ciência avançará o suficiente até a data da próxima "manutenção" para adiar a morte indefinidamente - um processo chamado por ele de estratégias para a senescência mínima engenheirada.
Suas idéias radicais são criticadas, porém, por outros especialistas na área, como Tom Kirkwood, diretor do Centro de Envelhecimento e Nutrição da Universidade de Newcastle, que as considera não mais que um exercício de raciocínio.
Kirkwood afirmou que o processo de envelhecimento humano é intrinsecamente maleável, ou seja, que a expectativa de vida não é uma coisa predefinida, mas os pesquisadores apenas começaram a compreender como ele funciona.
O objetivo não é simplesmente prolongar a vida, mas prolongar o tempo de vida saudável, algo que já começa a acontecer, já que as pessoas com mais de 70 anos levam vidas mais ativas que as gerações anteriores.
Jay Olshansky, da Universidade de Illinois em Chicago, está convicto de que a longevidade e a saúde vão avançar lado a lado, e que retardar o envelhecimento significará retardar o aparecimento de doenças como câncer, mal de Alzheimer e problemas cardíacos.
Mas, para entender a fundo a biologia do envelhecimento, será necessário um grande investimento. Olshansky e seus colegas pediram ao governo norte-americano que injete 3 bilhões de dólares na área, alegando que os benefícios de obter um atraso de sete anos no processo biológico de envelhecimento supera de longe os ganhos que seriam conseguidos com a eliminação do câncer.
Em termos éticos, o prolongamento da vida é polêmico, e certos pensadores afirmam que ele vai contra a natureza humana. Mas para John Harris, professor de bioética da Universidade de Manchester, qualquer sociedade favorável a salvar vidas tem o dever de endossar a medicina regenerativa.
"Salvar vidas é nada menos que adiar a morte", disse ele. "Se é certo e bom adiar a morte por um breve período, não dá para entender como seria menos certo e bom adiá-la por períodos mais longos”.

MITO DE ADÃO E EVA

Segundo a bíblia o mundo é bom. A finalidade da criação é a paz de Deus figurada no repouso do sétimo dia. O homem foi criado da terra, mas animado por um sopro de vida. Destina-se ele a viver na amizade com Deus, que lhe concedeu o dom da liberdade. Ora, a harmonia primitiva da criatura foi destruída. O homem, seduzido pelo poder da mentira, expõe-se a desobedecer a Deus na vá esperança de se tornar igual a ele. Toma então consciência de si mesmo no sofrimento e na vergonha. Dessa forma o pecado entrou no mundo.
Gênese 1 :26-28. Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrasta sobre a terra. Deus criou o homem a sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou:” Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos. Enchei a terra e submetei-a “.
Gênese 2:7. O Senhor Deus formou, pois, o homem de barro da terra, e inspirou-lhes nas narinas um sopro de vida e o homem se transformou em um ser vivente.
Gênese 2:15. O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. Deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as arvores do jardim; mas não comas do fruto da arvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que deles comeres, morrerás indubitavelmente”.
Gênese 2:21-22. Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher.
Gênese 3:1-6. A serpente disse à mulher: “É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda arvore do jardim?” A mulher respondeu-lhe: “Podemos comer do fruto das arvores do jardim. Mas do fruto da arvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais”. Oh, não! - tornou a serpente – vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que deles comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal. A mulher, vendo que o fruto da arvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. Então seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si.
E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde.
Mesmo se não existem documentos que permitam estabelecer quando o livro Gênese foi escrito, em base às analises que a ciência realizou, tem-se como certo que parte das tradições nele citadas retroagem à reforma religiosa introduzida pelo rei Josias em 621 a.C., e o livro, em si mesmo, teria sido compilado depois dos 50 anos de exílio babilônico, quando Ciro, Rei da Media, apos ter conquistado a Babilônia, autorizou os hebreus que o desejassem, no ano de 538 a.C, a retornar a sua terra natal. Nesta época, os hebreus haviam se despido da sua identidade cultural e religiosa: não cultuavam mais o Deus de Abraão e não falavam o hebraico porque os que retornaram a Israel, por serem os filhos dos que haviam sido deportados, haviam assumido o grego como língua oficial. Foi neste momento que os sacerdotes – os únicos que haviam se mantido fieis a suas crenças – começaram a “se empenhar” para que o povo judeu reassumisse a sua identidade religiosa
É factível estimar, conseqüentemente, que não só o livro gênese, mas os demais que integram o velho testamento, devam ter sido compilados no arco de 100 anos, ou seja, entre 520 a 420 anos a.C., portanto,sofrendo a influencia da doutrina de Zaratrusta.
O cristianismo, entretanto, antes de utilizar os velhos livros religiosos hebraicos, perpetrou algumas alterações, porque para os judeus, por exemplo, embora se dêem conta da existência do pecado, o pecado original jamais existiu.
Para eles, o “instinto do mal” resultaria da matéria que foi utilizada por Deus para criar o homem: o pó da terra. Contudo, crêem que a expiação para o mal que é causado por este instinto pode ser obtida através de sacrifícios, penitências, boas obras e a atuação da graça Divina. Não por meio de uma intervenção direta e pessoal de Deus, claro, mas pela atuação de um “instinto bom” que também é natural no homem por ter sido criado à imagem e por um sopro de Deus.
Porque os livros judaicos foram influenciados pelo zoroastrismo? Só para lembrar, já nos anos 650 a.C., os testos iranianos, battrianos, médios e até os persianos, dividiam seus deuses em duas categorias: os Ahura - as divindades superiores da luz que moravam no cosmo, e os Daeya - os espíritos inferiores que moravam na terra.
No Avesta, o livro sagrado dos antigos Persas escrito por Zaratustra – lê-se que no fim da sua peregrinação, à margem do rio Daeya, lhe aparece um anjo, e nesse encontro se da um dos mais fecundos acontecimentos para a história das religiões.
Zaratustra teve a visão de uma Luta cósmica entre as forças do bem e do mal - entre Deus e satanás - e depois disso teve a certeza que a vida continuava depois da morte no paraíso ou no inferno. Foi o primeiro a anunciar isso. Os demais profetas das religiões ocidentais anunciaram estes princípios muito tempo depois. Isso provavelmente aconteceu, segundo os historiadores, entre os anos 610 a 590 a.C., portanto, aproximadamente 600 anos antes de Jesus Cristo e 1.200 anos antes de Maomé, mas milhares de anos depois de Moises.
Do lado de Ahura Mazdah em primeiro lugar existe Spenta Mainyu, “Espírito Santo” que tanto pode aparecer como encarnação do Deus único, ou como entidade espiritual com o objetivo de anunciar a vontade Divina, e seus servidores são divindades da luz “amesha spentas”, espíritos imortais ou anjos que recebem a missão de anunciar aos homens as mensagens Divinas. Vohu Manu - boa alma - que apareceu a Zaratustra na margem do rio para acompanhá-lo ao trono de Deus, era um destes anjos. Do lado do “espírito do mal”, Angra Mainyu, estão os daevas, demônios, e a este grupo pertencem a maior parte dos “deuses” que eram adorados pelos antecessores de Zaratustra e por aqueles que não lhe seguiram os exemplos. São espíritos a serviço do mal.
O que existe em comum, então, entre o judaísmo, o catolicismo e o proprio islamismo, que também aceita o livro Gênese? Que foi Deus que criou tudo, incluindo o homem, porque pessoalmente o moldou a sua imagem e semelhança no barro da terra e com um sopro lhe deu vida.
A partir desta conceituação, mesmo se alógica, é aceitável que Deus, como Pai, tenha imposto obrigações a seus filhos, porem, se até no mundo terreno, hoje, o pai que impede que seus filhos se instruam freqüentando a escola está sujeito a penalidades legais, quem é aquele “deus” que exigia que seus filhos se mantivessem na ignorância: “não comas do fruto da arvore da ciência do bem e do mal, porque no dia em que deles comer, morrerás indubitavelmente”, e vivessem cegos, porque depois que comeram os frutos proibidos seus olhos se abriram, e, vendo que estavam nus, se vestiram. O que esse pai esperava: “eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde”, mantê-los cegos e ignorantes em seu jardim pela eternidade?
Mas a insensatez desse “deus” não termina aqui:
Gênese 3:16. Disse também à mulher: “Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás a luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio”.
Gênese 3:17. E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da arvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa”.
Se esse “deus” castigava e amaldiçoava, como depois enviaria seu Filho, Jesus, para através do seu sofrimento pagar os pecados do mundo? Como mínimo há muita incoerência nisso tudo.
Quem seria este “deus” que, depois de produzir um homem tão defeituoso e mau, mesmo tendo-o feito com suas próprias mãos a sua imagem e semelhança, no passado - segundo o livro Gênese - arrependendo-se de tê-lo criado o destruiu com o dilúvio, e hoje lhe reserva o inferno - sob o comando de satanás - para retê-lo e castigá-lo pela eternidade, se até o homem, quando produz algo defeituoso, em outras palavras, com defeito de fabricação, imediatamente o desmancha? Com certeza um deus imaginado por homens - portanto intrinsecamente com suas próprias imperfeições - para servir-se dele em seus fins religiosos.